Nestes últimos três dias em viagem a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) expôs impasses que acabaram adiando sua filiação ao PL, além duma tentativa de controlar mais a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e, ainda, uma Amazônia que não corresponde à realidade por meio de declarações falsas a investidores árabes.
Bolsonaro chegou a Dubai no sábado (13/11). A estada foi a primeira parte de uma semana de agendas pelo Oriente Médio para, segundo ele, tentar atrair investimentos estrangeiros e visitar o pavilhão do Brasil na Expo 2020, feira universal em Dubai com a presença de diversos países (adiada para este ano devido à pandemia.
Ontem (15/11), o presidente, comitiva e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, viajaram para Manama, capital do Bahrein, para inaugurar a embaixada do Brasil no país. Hoje (16/11), Bolsonaro segue para Doha, no Catar, onde deve visitar o Estádio Lusail, que sediará a final da Copa do Mundo de 2022, como último destino da viagem.
Briga com o PL e filiação adiada (ou até cancelada).
O principal assunto discutido por Bolsonaro com a imprensa ao longo da passagem por Dubai foi o adiamento da filiação dele ao PL, partido do centrão comandado pelo veterano cacique Valdemar Costa Neto. Na semana passada, após conversas de Bolsonaro com Costa Neto, que participou do Governo Lula, foi preso acusado de comandar o “Mensalão do PT. O PL anunciou que o presidente Bolsonaro se filiaria à sigla em cerimônia em 22 de novembro.
No domingo (14/11), Bolsonaro afirmou ainda ter “muita coisa a conversar” com Costa Neto e que a data de filiação dele ao partido, poderia ser adiada. Horas depois, o próprio PL confirmou o cancelamento do evento de filiação.
Em texto a correligionários, Costa Neto disse que a decisão do adiamento foi tomada “de comum acordo” e “após intensa troca de mensagens na madrugada” com o presidente da República. Na segunda-feira (15/11), Bolsonaro afirmou esperar que “em pouquíssimas semanas, duas, três, no máximo, casa ou desfaz o noivado” com o PL. “Mas acho que tem tudo para a gente casar e ser feliz”.
Entre os motivos para o adiamento estão as articulações regionais do partido para as eleições do ano que vem, especialmente em São Paulo e no Nordeste, que esbarram nas rixas de Bolsonaro com o governador paulista, João Doria (PSDB), e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além disso, entram na lista a decepção demonstrada por parte do eleitorado nas redes sociais com a oficialização de Bolsonaro como membro do centrão e a falta de compromisso da legenda com tradicionais bandeiras bolsonaristas.
A própria filiação de Bolsonaro ao PL poderia servir de munição para Moro reforçar o discurso de combate à corrupção. Outros pontos de conflito são a adesão, ou falta dela, do PL às pautas de costumes defendidas por Bolsonaro. Valdemar Costa Neto também não permitiu que Bolsonaro tomasse conta da Executiva nacional e tivesse controle sobre todos os diretórios estaduais, como preferia o grupo do mandatário.
Seriam as disputas apenas um pretexto?
Há no PL quem afirme que as disputas políticas regionais, especialmente relativa a São Paulo, são apenas um pretexto de Bolsonaro para acabar com as negociações após repercussão negativa da suposta ida ao PL entre a base bolsonarista mais fiel e essencial para manter um patamar significativo de apoio a Bolsonaro nas eleições.
Para um interlocutor próximo a Costa Neto, Bolsonaro estava ciente da proximidade do PL com Doria, que não é recente. Ele considera que a filiação de Bolsonaro ao partido já “babou” e é questão de dias para qualquer intenção ser desfeita.
Enem começa a terá cara do governo.
Em meio à demissão em massa de servidores no Ministério da Educação às vésperas do Enem com denúncias de censura no conteúdo da prova, Bolsonaro disse que o exame começa a ter “a cara do governo”.
“Começam agora a ter a cara do governo às questões da prova do Enem. Ninguém está preocupado com aquelas questões absurdas do passado, de cair um tema de redação que não tinha nada a ver com nada.
É realmente algo voltado para o aprendizado”, declarou. A Reportagem explicou que o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pelo Enem e ligado ao Ministério da Educação, hoje vive sua pior crise.
Bolsonaro disse que “o negócio é complexo e insinuou que havia gastos excessivos com determinados funcionários.
Bolsonaro volta a distorcer dados da Amazônia.
Também em Dubai, o presidente da República voltou a distorcer dados sobre o desmatamento. Em discurso a investidores árabes, Bolsonaro disse que a Amazônia não pega fogo por ser uma floresta úmida.
Numa tentativa de traçar um cenário positivo para a região que tem enfrentado números recordes de queimadas e desmatamento, Bolsonaro disse que mais de 90% da Amazônia está preservada e “exatamente igual a quando o Brasil foi descoberto”. Porém, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Florestas, a devastação já atingiu cerca de 16% do bioma.
Além disso, segundo especialistas, o predomínio de florestas na Amazônia não é sinônimo de áreas intactas. Reportagem de Ecoa mostrou que a WWF-Brasil, a partir de dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), estima que a Amazônia perdeu 19% de sua área original.
Bolsonaro ainda voltou a reclamar das críticas internacionais sobre a política ambiental do Brasil e reforçou que a Amazônia é um patrimônio do Brasil. Na chegada a Dubai, ele já havia declarado que o Brasil é um dos países mais “atacados”, ao falar sobre a COP26.
“Presos políticos”
No sábado, o presidente se reuniu com o primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos e emir de Dubai, o xeque Mohammed Bin Rashid Al Maktoum. Após o encontro, Bolsonaro afirmou a jornalistas que um dos temas conversados foi uma “troca de possíveis presos políticos”.
Questionado sobre quais setores específicos foram abordados na conversa, o presidente mencionou diversas áreas, sem se aprofundar. “Agricultura é muito importante para eles, inteligência artificial, estamos tratando desse assunto, Defesa, educacional”, disse.
Uma das jornalistas presentes então perguntou o que foi assinado na área de educação: “Eu não vou entrar em detalhes contigo, mas foi discutido bastante, na Defesa também, troca de possíveis presos políticos. Então é mais aqui nesse momento uma troca de gentilezas”, afirmou. Ele não detalhou quem seriam esses presos políticos.
Visita a feiras, campeonato de jiu-jitsu e autoridades.
A declaração de Bolsonaro que expôs as insatisfações com o PL foi dada durante visita a uma feira aeroespacial, a Dubai Airshow. No evento, o presidente assistiu a apresentações e entrou num avião da Embraer.
A empresa atualmente se encontra em meio a brigas com a FAB (Força Aérea Brasileira) após redução no número de aeronaves a serem compradas pelo governo federal, o que Bolsonaro buscou minimizar. Na feira, Ministério da Defesa tentou ampliar as vendas de produtos da área aos países árabes.
Logo no sábado, o primeiro dia em Dubai, Bolsonaro visitou a Expo 2020 e se reuniu com autoridades dos Emirados Árabes. O pavilhão do Brasil conta com projeções de imagens que remetem à flora e fauna brasileira.
Ontem, 15 de novembro, foi o Dia do Brasil no evento, em referência à Proclamação da República. As comemorações contaram com apresentações de jiu-jitsu e de música brasileira, como samba e MPB.
A visita aos Emirados Árabes contou com reuniões com algumas das principais autoridades locais e fórum de investimentos ao lado de ministros. O governo afirma que pretende atrair os chamados “petrodólares” dos árabes a projetos de concessão e privatização, promover a expansão de empresas do agronegócio e ampliar o portfólio de produtos de defesa.
Comitiva de ministros, inclui filhos e coadjuvante.
Integram a comitiva os ministros Paulo Guedes (Economia), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Braga Netto (Defesa), Carlos França (Relações Exteriores), Gilson Machado (Turismo) e Bento Albuquerque (Minas e Energia), além dos deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) de Helio Lopes (PSL-RJ), e do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), entre outros. O ex-senador, quase vice-presidente e quase ministro dos Direitos Humanos, Magno Malta, até há pouco relegado a segundo plano pelo presidente, também está com o grupo.
Fonte: Uol
Edição: Wilson Barbosa – Jornal Cidades
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